terça-feira, 5 de outubro de 2010

LITERATURA



ENCONTROS E DESPEDIDAS.

Luis Lago



        Eles desciam a alameda já tantas vezes calcadas pelos seus pés. Por isso, não mais se davam conta das lojas e dos bares que a margeavam, nem dos luminosos agressivos em seus apelos diferentes, e que davam, ainda que esmaecido, um tom colorido ao chão da calçada úmida pela chuva que caía fina e fria.

Sua roupa estava molhada e colada ao corpo, bem como a roupa dela. Caminhavam lado a lado desde o início da alameda, quando ela se acercou dele com um sorriso nos lábios, e só neles porque os olhos estavam tristes, quase lacrimosos. Ele respondeu com um olhar não menos triste, mas sem nenhum riso.
Nenhum nem outro buscavam disfarçar a melancolia. De quando em quando, os dois falavam pouco ou nada, mas logo tornavam a calar-se, o silêncio dizendo mais que as palavras. O pensamento de um passado ainda próximo penetrava em um e no outro, e foi andando com eles alameda abaixo.

Por pouco mais de três anos, a vida sido tinha sido excessivamente benévola para com eles. Conheceram-se numa noite onde a alegria cantava e dançava entre as mesas repletas de músicos, compositores, artistas de teatro e de cinema; todos testemunhas e incentivadores da amizade farta que nasceu entre os dois, e que acabou por se transformar em algo mais que comoção, mais que amor, mais que paixão que ele e ela concebiam eterna.

No início, nada faziam que não fossem juntos e como se fossem um só. Comiam em um prato único. Bebiam em um copo único. Enrrolavam-se em uma toalha única. Adormeciam sobre um travesseiro único. E acordavam em um corpo único, depois de sonhos e mais sonhos únicos.
Nestes últimos meses, porém, as palavras foram se definhando e se cerrando, até findarem-se em algumas e raras sílabas. Nestes últimos meses, a felicidade foi interrompida, e a alma dele e a alma dela passaram a verter lágrimas silenciosas, as quais eles mal cuidavam de enxugá-las. A ele e a ela, só restara olhar para longe. Para muito longe, para onde tudo se esvai, e para onde mal podiam consolar a saudade de si mesmos.

Agora desciam a alameda, resignados e com as roupas encharcadas e como que impregnadas pelo direito de viver e de amar em paz.
Em frente a uma boate, ela apertou o ombro dele, despedindo-se, antes de entrar e antes de encontrar-se com seu novo amante, um afeccionado músico de jazz. Ele ainda procurou esboçar um aceno de até-breve para ela, mas o gesto quedou-se na intenção. Entretanto, não havia mágoa. Ele apenas sentiu um latejar dentro dele, sem poder identificar o que era.

Resoluto, ele seguiu descendo a alameda, ainda alheio às lojas, aos bares, aos luminos e à chuva fina e fria que teimava em molhar a sua roupa e a calçada. Ele seguiu descendo a alameda, enquanto o tempo passava despercebido e esvaía a noite.
Sem que se desse conta, lá embaixo, um anjo loiro e cálido o esperava com um sorriso aberto e docemente puro.