segunda-feira, 5 de agosto de 2013

POESIA


POEMAS DO BECO
Introdução aos Poemas do Beco.
Os poemas que serão postados adiante foram escritos pelo poeta Luís Lago em uma época
em que todos nós desejamos esquecê-la.  Uma época aonde uma ditadura militar tolheu os passos e os pensamentos de todos nós.  Uma época que jamais há de retornar pois que TODOS somos outros. Eles, ignorantes malfadados, cresceram em pensamento e postura (será que cresceram mesmo???)  Nós permanecemos os mesmos.  Nossa fé na liberdade, na igualdade, na fraternidade.  A fome e a miséria, infelizmente, persistem.  Estamos longe do que sempre sonhamos e LUTAMOS. 
Ao mesmo tempo em que parabenizo esse (na época) o iniciante Poeta, hoje Autor desse nosso Blog MARAVILHOSO, parabenizo Chico Buarque de Holanda, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Glauber Rocha __ todos banidos e exilados para a fuga da morte.                         E também parabenizamos   nosso amado Geraldo Vandré.  Ei, Vandré, 

nos diga, de onde Você estiver, um pouco, um pouco só (E SERÁ MUITO) . Valeu a pena o que todos vivenciamos e sofremos por um Ideal hoje ainda que PARCIALMENTE realizado?
==Veralino Alavrenga, um pequenino crítico de Artes)


PRIMEIRO POEMA DO BECO (Abril de 1964)

Fiapos de chuva cortinando cores,
desejo de fuga escalando o Muro,
pedras transformando-se em estrelas puras,
rastros de satélites empoeirados de azul, gritos de Amanhã em frustrações de despertar,

E sexo com nojo e vergonha de ser sexo,

Flores manchadas de guerras mascando polem de sangue,
e apelos de paz na garganta dos fratricidas loucos,
dos fracos, 
dos desajustados fedendo à Sarjeta,

Submersão de almas e de  corpos,
enterro de mãos clamando purezas,
no Beco Simples porque desnudo,
no Beco Puro porque persiste-lhe a ânsia de viver.
de amar e ser amado sorrindo,
Amor.


GERMINAL

De repente tudo se fez calmo e apenas se ouviu um sopro leve de brisa morna e boa.
De repente, estrelas nasceram e desenharam um quê de vida na noite escura mas livre e eterna.
De repente, as flores se falaram e sorriram (pois as flores também possuem rostos e graça).

De repente a alma do poeta e dos vadios amedrontados sentiu a diferença das cores,
a compreensão das palavras mudas, o gesto parado do instante nascido,
e despertando
amou,
viveu,
chorou,
e rendeu de mãos postas
um verso à Eternidade.



FRUSTRAÇÃO

Fitei-me no espelho da e me vi desfigurado:
Um ponto com infinitas retas,
um plano mal arquitetado.

A chama dos meus olhos reflexou-se em prismas distintos,
e meus braços esticados 
em loucas e incertas medianas...
Espelho da vida?!
-- figuras falsas da geometria 
humana.

TRÊS TROVAS MAIS-QUE-IMPERFEITAS

(DEDICADO À MEIGA SARA FELDMAN)

1a.

Na noite fria,
Uma poesia nua.
Nos olhos do mendigo,
um desejo de lua.

2a.

 Minha alma
como aquela criança sem nome,
vai compondo sobre lixos
uma ciranda à fome.


3a.

No solo,
homens esperneiam-se e mastigam o pó.
Calma, minha gente, não é a morte:
é uma fuga. 
Uma fuga do medo...
Só!



FOLHA SOLTA


Folha solta
que voa
que soa
jamais
folha solta
um riso
que ecoa
escutará.
Folha solta 
no ar
à toa
um dia
irás.


ENCONTRO

O poeta doente olha o abismo profundo.
Hesita, treme, balança, medita.
........................................................................
O sol engole o tempo sem fim.
O poeta cai. (--- lá embaixo, um anjo azul o espera
sorrindo docemente).