sábado, 8 de outubro de 2011

FOTOGRAFIA

 
RETRATO DE UM
ARTISTA








Queremos  apresentar aos nossos amigos Visitantes uma figura marcante no campo da Fotografia:  German Lorca.

Nascido em 1922 no bairro do Brás, na capital paulistana, membro do pioneiro Clube de Fotografia de São Paulo, desde menino adquiriu um olhar agudo para as imagens do cotidiano de sua tão amada cidade. 


São Paulo em IV Centenário ~ G.Lorca, 1954
 Esse olhar foi ampliado pelas lentas das remotas máquinas fotográficas da Kodak, das Roller-Flex, das Leica,  para depois passar pelas Yashica, Canon, AssaiPentax, Nikon  da vida,  e mais outras e outras mais, até chegar às digitais de hoje.
Aos 89 anos, o Lorca já apresentou suas fotos sempre em P&B em diversas exposições e museus nacionais e internacionais.  Poderia dar-se por “esgotado”, mas o seu olhar agudo persiste, para o nosso deleite, para nossa emoção.
A enorme satisfação de conhecê-lo e tê-lo como tão grato Amigo,  deste então,  foi em 1982.  Tornou-se  nosso professor sempre detalhista, exigente e dedicado em nossos simplórios takes de fotografia e frames de Super 8.  Nunca fomos além de aprendizes, embora sejamos e seremos  eternamente grato pelas suas lições e exemplos.
Pedimos à ele permissão para presentear aos Amigos que visitam esse nosso Blog, uma pequenina gota de sua gigantesca obra.  Tomamos a liberdade de publicar algumas fotos dos anos 40, 50, 60 e 70.  Distante de um saudosismo barato, a escolha busca dizer a brutal transformação da Capital paulista, seja na degradação ambiental, seja na vilipendiação social e humana.  O modesto exemplo serve para todas as metrópoles brasileiras. Infelizmente.

Daqui mandamos ao Mestre um abraço.
Valeu, Lorca!

  
Barcos no Rio Tietê, 1949


Cena na Praça Antônio Prado, 1955
 
         Aeroportode Congonhas, 1957

Basílica de N.S. Aparecida, 1975

Cena cotidiana, 1953
Cena em uma rua no bairro paulistano do  Brás, , 1950

Dia de chuva em São Paulo, 1965

Cotidiano da capital paulista, 1948
Galinhas em um fundo de quintal paulistano, 1965

Malandragem, 1953
Reflexos, sem data
Concretismo, 1973
Composição, 1976

Composição, 1975


sexta-feira, 3 de junho de 2011

LITERATURA

O SERTÃO E AS VEREDAS
PINCELADAS
PELO GÊNIO DE

JOÃO GUIMARÃES ROSA.
















UM POUCO SUA VIDA.
João Guimarães Rosa nasceu no dia 27 de junho de 1908, em Cordisburgo, Minas Gerais.
Foi um dos mais importantes escritores brasileiros do todos os tempos. Foi também médico e diplomata.
Autodidata, começou ainda criança a estudar diversos idiomas, iniciando pelo francês quando ainda não tinha 7 anos. Tornou-se o maior poliglota, seja no Brasil, seja no exterior, como se pode verificar neste trecho de entrevista a uma revista nacional:
Eu falo: português, alemão, francês, inglês, espanhol, italiano, esperanto, um pouco de russo. Leio: sueco, holandês, latim e grego (este último, com o dicionário agarrado). Entendo alguns dialetos alemães. Estudei a gramática: do húngaro, do árabe, do sânscrito, do lituano, do polonês, do tupi, do hebraico, do japonês, do checo, do finlandês, do dinamarquês. Bisbilhotei um pouco a respeito de outras. Mas tudo mal. E acho que estudar o espírito e o mecanismo de outras línguas ajuda muito à compreensão mais profunda do idioma nacional. Principalmente, porém, estudando-se por divertimento, gosto e distração.

Ainda pequeno, mudou-se para a casa dos avós, em Belo Horizonte, onde concluiu o curso primário. Iniciou o curso secundário no Colégio Santo Antônio, em São João del-Rei, mas logo retornou a Belo Horizonte, onde se formou.
Em 1925, matriculou-se na então “Faculdade de Medicina da Universidade de Minas Gerais”, com apenas 16 anos.
Ainda não havia se formado, quando em 1929, escreveu seus primeiros contos e deu início à sua carreira como literário.
Já a princípio, ganhou prêmio em dinheiro pelos tais contos, ao participar de concurso oferecido pela revista O Cruzeiro.
Nesse período, suas obras, apesar de premiadas, não tinham a linguagem literária que representou um marco na literatura brasileira.
Na data de seu aniversário, no ano de 1930, casa-se com a primeira esposa, Lígia Cabral Penna.

Forma-se no mesmo ano em Medicina. Exerce sua atividade como médico em várias cidades do interior mineiro.
Após presenciar as dificuldades de se trabalhar em lugares que só oferecem sub vida aos seus habitantes, fixou-se em Itaguara, então município de Itaúna (MG), onde permaneceu cerca de dois anos, servindo como médico voluntário da Força Pública (atual Polícia Militar), durante a Revolução Constitucionalista de 1932. Foi nessa localidade que passou a ter contato com os elementos do sertão que
serviram de referência e inspiração à sua obra.



GRANDE SERTÃO:VEREDAS - A OBRA MÁXIMA


GRANDE SERTÃO:VEREDAS é um dos melhores romances de todos os tempos produzidos no Brasil, e reconhecido internacionalmente. Neste livro, um ex-jagunço (Riobaldo) então idoso e rico proprietário de três fazendas herdadas, narra para um interlocutor (sempre "oculto") a sua vida de jagunçagem. O leitor logo assume o papel desse interlocutor "oculto" e acompanha, sem fôlego, a narração do personagem principal – Riobaldo. São histórias de disputas, traições, vinganças, viagens por centenas de léguas e léguas sem fim; assim como os amores e as mortes vistas e vividas pelo personagem nos vários anos que andou pelos sertões de Minas, Goiás e sul da Bahia, no início do século XX. Riobaldo era um dos muitos que percorriam o sertão abrindo o caminho à bala. Entre seus companheiros, havia um em especial e por quem cultivava um amor secreto, pois que ele cria proibido, por conceber homossexual: Reinaldo/ Diadorim.
Riobaldo(Tony Ramos) e Diadorim(Bruna Lombardi) na minissérie da Globo.
Em suas incontáveis dramas e aventuras de jagunçagem, Riobaldo conhece um dos seus heróis: o chefe Joca Ramiro, grande líder, chefe político e valente guerreiro . Joca Ramiro é traído e assassinado por Hermógenes, um dos seus companheiros de luta. É quando, então, Riobaldo, tornando-se chefe de seis bandos de jagunços, começa a sua trajetória de vingança.
Ao longo de toda a narração, o leitor mergulha na mente do jagunço Riobaldo, sua sabedoria de sertanejo, seus medos, suas lutas interiores, e seu arrebatador sentimento pelo companheiro Reinaldo/Diadorim. Em GRANDE SERTÕES:VEREDAS é desenhado um sertão inesperado, venturoso, místico e quase vivo.
O livro imediatamente ao ser publicado é aclamado pela crítica por suas inovações nas formas e na escrita. Além de receber prêmios por esta obra, Guimarães Rosa passa a ser reconhecido como um escritor especial dentro da 3ª geração pós-modernista.
O Autor era extremamente místico, ligado a pensamentos supersticiosos. As crenças politeístas e os fluídos bons e maus faziam parte de sua vida. Assim, curandeiros, feiticeiros, quimbanda, umbanda, espiritismo e a força dos astros refletiam em concordância com as idéias de Guimarães Rosa.
Por este motivo, se estabelece uma relação entre a inovação na fala das personagens e o regionalismo envolto em um “sertão místico”, como denomina o autor José de Nicola.



A característica peculiar de Guimarães Rosa é o uso de neologismo, ou seja, da criação de palavras ou da recriação delas. Veja neste texto, em que o já fazendeiro Riobaldo expressa sua dúvida quanto à existência do diabo ao seu interlocutor. Observe toda a riqueza poética em que Guimarães Rosa o elabora. A beleza do neologismo dá o tom para a criação da simplicidade da narração do personagem. Veja esses exemplos, entre muitos e muitos outros:


De primeiro, eu fazia e mexia, e pensar não pensava. Não possuía os prazos. Vivi puxando difícil de DIFÍCEL, peixe vivo no moquém: quem mói no ASP`RO, não FANTASEIA. Mas agora, feita a folga que me vem, e sem pequenos DESSOSSEGOS, estou de range rede. E me inventei neste gosto, de especular idéia. O diabo existe e não existe? Dou o dito. ABRENÚNCIO. Essas melancolias. O senhor vê: existe cachoeira; e pois? Mas cachoeira é barranco de chão, e água se caindo por ele, RETOMBANDO; o senhor consome essa água, ou desfaz o barranco, sobra cachoeira alguma? Viver é negócio muito perigoso…
“Explico ao senhor: o diabo VIGE dentro do homem, os CRESPOS do homem — ou é o arruinado, ou o dos avessos. Solto, por cidadão, é que não tem diabo nenhum. Nenhum! –é o que digo. O senhor aprova? Me declare tudo, franco –é alta mercê que me faz: e pedir posso, encarecido… Não diga que o senhor, ASSISADO e instruído, que acredita na pessoa dele?! Não? Lhe agradeço! Sua alta opinião compõe minha valia. Já sabia, esperava por ela… Lhe agradeço. Tem diabo nenhum. NONADA. O diabo não há! É o que eu digo, se for… Existe é homem humano.”



OUTRAS FRASES DITAS POR RIOBALDO AO SEU INTERLOCUTOR:


Viver é muito perigoso
Viver é um descuido prosseguido
Viver é etecétera
Tem horas antigas que ficaram muito mais perto da gente do que outras, de recente data. O senhor mesmo sabe
O senhor sabe o que o silêncio é? É a gente mesmo, demais
Tudo é e não é
Deus é paciência. O contrário é o diabo
Pão ou pães, é uma questão de opiniães
Eu quase nada não sei. Mas desconfio de muita coisa
E, outra coisa, o Diabo, é às brutas; mas Deus é traiçoeiro! Ah, uma beleza doeiro – dá gosto! A força dele, quando quer – moço ! – me dá o medo pavor! Deus vem vindo: ninguém não vê. Ele faz é na lei do mansinho – assim é o milagre. E Deus ataca bonito, se divertindo, se economiza




PERSONAGENS DE GRANDE SERTÃO:VEREDAS. (CONHEÇA-OS ou RELEMBRE-OS)


RIOBALDO


    (Tony Ramos como Riobaldo na minissérie da Globo)



  • É o personagem que narra a própria vida, desde a juventude, antes de virar jagunço.
    Nessa época, estudou e aprendeu a ler e a escrever, tornando-se professor de Zé Bebelo, seu futuro chefe. Quando entra para a vida de jagunço, Riobaldo é apelidado de Tatarana que significa “Lagarta de Fogo” , em homenagem à sua exímia pontaria. Em um dado momento da narrativa, depois de um suposto pacto com o Diabo, Riobaldo-Tatarana toma a liderança do grupo, sendo rebatizado de “Urutu Branco”. Riobaldo é o narrador-protagonista do romance. Morador às margens do São Francisco,
    conta sua trajetória de vida com acentos e jeitos sertanejos – uma inusitada invenção de linguagem, a um interlocutor que nunca se pronuncia, a quem ele chama “Senhor” ou “Moço”. Em sua narrativa, intérprete dos segredos das veredas, Riobaldo tece a estória de sua vida – um discurso de descoberta e autoconhecimento: revelando o sertão-mundo, revela-se a si próprio, como se dissesse “o sertão sou eu” para reconhecer-se. Nessa perigosa travessia, Riobaldo confronta as forças do bem e do mal. Retoma, num fluxo de memória, o fio de sua vida e narra as grandes lutas dos bandos de jagunços, descreve os feitos e características de diversos personagens, revelando os códigos de honra e de procedimentos do sertão.
    Ex-jagunço de um bando dos “sertões das gerais” (sul da Bahia, norte de Minas Gerais e sul e sudeste de Goiás), Riobaldo assume a liderança do bando com a morte de Joca Ramiro, seu chefe, assassinado por Hermógenes, líder de um grupo rival. Riobaldo tenciona vingar a morte de Joca Ramiro, para ele uma questão de honra. Nessa intenção tenta um pacto com o demônio, para obter proteção e força na vida de jagunço.
    Uma das grandes angústias de Riobaldo era sobre a existência do “Diabo”, e se verdadeira a sua condição de pactuário. Ao final da narrativa está certo que não: “Nonada. O diabo não há! É o que eu digo, se for… Existe é homem humano.” No meio de sua travessia, surge a enigmática relação de amizade e afeição com um companheiro de pelejas, com quem dialogava todo o tempo. Ficam amigos e confidentes: Diadorim. Após a trágica morte de Diadorim, entra e passa a viver em completa prostra
    ção.

    DIADORIM
    (Bruna Lombardi em cena na minissérie da Globo)



  • Personagem-chave do romance, é tida como homem durante quase toda a narrativa. Apenas nas últimas páginas o narrador conta que, depois de sua morte, quando o corpo é despido e lavado, descobre-se que se tratava de uma mulher.
    Diadorim havia conhecido Riobaldo, quando ainda eram jovens, em uma travessia do rio São Francisco. Nessa ocasião, ela já vivia disfarçada de menino e dizia chamar-se Reinaldo. Esse nome era secreto no meio da jagunçagem. Seu íntimo nome (Diadorim) era utilizado apenas nos momentos em que ela e Riobaldo estavam a sós. Quando Riobaldo reencontra Reinaldo/Diadorim, tempos depois, passa para o bando de Joca Ramiro, motivado pela presença de Reinaldo/Diadorin. Riobaldo apaixona-se profundamente por Reinaldo/Diadorim, o que provoca nele vários sentimentos contraditórios e de repressão, já que a paixão homossexual era uma relação impossível de ser aceita no meio jagunço.
    (Bruna Lombardi e Tony Ramos em cena na minissérie da Globo)

    Reinaldo/Diadorim é filho do grande chefe Joca Ramiro, traído por Hermógenes. Diadorim era sério, “não se fornecia com mulher nenhuma”, como narrou Riobaldo. Destemido, calado, de feições finas e delicadas, impressionava Riobaldo e exercia sobre ele grande fascínio: “Mas eu gostava dele, dia mais dia, mais gostava. Digo o senhor: como um feitiço? Isso. Feito coisa-feita. Era ele estar perto de mim, e nada me faltava. Era ele fechar a cara e estar tristonho, e eu perdia meu sossego."

    Diadorim tinha como objetivo vingar a morte do pai e consegue, após muitas lutas e andanças. Em sangrento duelo, mata Hermógenes, mas é ferido mortalmente. Ao receber a notícia da morte do amigo, Riobaldo é tomado por dor intensa e, em desespero, estarrecido, exclama: “Meu amor”, diante do corpo desnudo a revelar o grande segredo do companheiro.

JOCA RAMIRO


(Rubens de Falco no papel de Joca Ramiro na minissérie da Globo)


Grande chefe político e guerreiro, lidera a primeira guerra narrada no romance, e seu assassinato origina a segunda guerra.
Em oposição a Hermógenes, Joca Ramiro é o grande guerreiro, o líder sábio, justo, corajoso. Pai de Diadorim que o tem de uma mãe não identificada e que o cria (inexplicavelmente) como um HOMEM, e que não se define nem como Homem nem como Mulher, demonstrando a coragem exigida aos Sertanejos e a ternura e a sensibilidade próprias das Mulheres de então, JOCA RAMIRO é o Sertão enigmático, que existe real aos nossos olhos e miticamente dentro de todos nós. O leitor reconhecerá em Joca Ramiro a encarnação das virtudes.




HERMÓGENES
Para Riobaldo, Hermógenes era o “Cão”, o “Demo”.(Tarcísio Meira interpreta Hermógenes na minissérie da Globo


É o personagem mais odiado pelo narrador. Na primeira guerra, quando estão lutando do mesmo lado, Riobaldo já revela seu ódio por ele; na segunda guerra, quando Hermógenes e Ricardão assassinam Joca Ramiro, esse sentimento se acentua. No romance, Hermógenes é a personificação do mal do ódio e da traição, levando à destruição moral ou física do que lhe é considerado inimigo, não importa por quais meios.malódio e da traição, levando à destruição moral ou física do que lhe é considerado Ainda que se lhe ponha a mística do “pactante com o Demônio”, Demógenes supera todos os obstáculos que se lhe apresente à sua passagem. É mesmo capaz de “desaparecer” aos olhos de seus oponentes.


ZÉ BEBELO

(José Dumont interpretou Zé Bebelo naminissérie da Globo)


É um personagem intrigante. Dono de uma oratór ia verborrágica, tinha ambições políticas, mas, segundo o narrador, começara tarde essa busca pelo poder. Zé Bebelo é extremamente orgulhoso e gaba-se de nunca se ter deixado comandar por ninguém. Conhece Riobaldo quando esse ainda não era jagunço e aprende com ele um pouco de português, matemática, história e geografia. Quando Riobaldo lhe toma a chefia, Zé Bebelo reconhece a força do oponente e decide deixar o grupo. Riobaldo tem uma relação diferenciada com Zé Bebelo, conservando sempre certo apreço por esse personagem.
RICARDÃO – enquanto Zé Bebelo guerreava por ambições políticas e Hermógenes era motivado por sua natureza assassina, Ricardão tinha interesse apenas na questão financeira. Fazendeiro rico, guerreava para depois poder enriquecer quando viesse a paz.


SÔ CANDELÁRIO, TITÃO PASSOS, MEDEIROS VAZ. (O autor Sebastião Vasconcelos interpretou o Chefe Sô Candelário na minissérie da Globo)
Chefes de bandos de jagunços. São astutos, valentes e fidelíssimos ao Grande Chefe Joca Ramiro. Com o assassinato deste, eles ficam sob o comando de Zé Bebelo, e depois sob o de Riobaldo – o Urutu Branco.


COMPANHEIROS–JAGUNÇOS
A amizade incondicional que nos
é dada pelas pouquíssimas pessoas que nos cercam, e que quase todos as temos, é representada pelos companheiros- jagunços de Riobaldo:
Fafafa, Paspe, Acauã, Alaripe, Sesfrêdo, Jesualdo, João Concliz, Triol, Quipes, Pacamã-de-Presas, João Nonato. A esses "amigos verdadeiros, de alma” como disse Riobaldo, são dados pedaços de uma das três fazendas por ele herdadas, a mesma fazenda em que decide viver pacificamente, finda a guerra no sertão

COMPADRE MEU QUELEMÉM (O magnífico ator Mário Lago interpretou Compadre Meu Quelemém na minissérie da Globo)


Em um verdadeiro labirinto literário o personagem do Compadre Meu Quelemém. Esse personagem, com suas profundas explicações espíritas e filosóficas, busca esclarecer ao desestruturado Riobaldo, após a trágica morte de Diadorim, as suas dúvidas da existência de Deus e do diabo. É citado por Riobaldo como um consultor-orientador psíquico e espiritual. No fundo, Guimarães Rosa apresenta-nos esse magnífico personagem como a nossa consciência sempre vigilante e nunca obedecida, em que pese sempre consultada por todos nós.


OUTROS ASPECTOS IMPORTANTES DO AUTOR E SUA OBRA MÁXIMA.

João Guimarães Rosa em sua segunda candidatura para a Academia Brasileira de Letras, em 1963, foi eleito por unanimidade.
Temendo ser tomado por uma forte emoção, adiou a cerimônia de posse por quatro anos. Em seu discurso, quando enfim decidiu assumir a cadeira da Academia, em 1967, chegou a afirmar sob tom sarcástico: “…a gente morre é para provar que viveu.” Faleceu três dias mais tarde na cidade do Rio de Janeiro, em 19 de novembro.
Se o laudo médico atestou um infarto, sua morte permanece um mistério inexplicável, sobretudo por estar previamente anunciada em sua obra mais marcante — GRANDE SERTÃO:VEREDAS —, romance qualificado por Rosa como uma “autobiografia irracional”. De fato, biografia e ficção se fundem e se confundem nas páginas enigmáticas de João Guimarães Rosa, desaparecido prematuramente aos 59 anos de idade, no ápice de sua carreira literária e diplomática.

Apesar da Crítica considerar a gigantesca Obra de “enigmática”, Grande Sertão:Veredas carrega em seu bojo criativo figuras marcantes da tipologia brasileira; nem falamos das principais personagens: o guerreiro covarde e medroso RIOBALDO e o encantador e doce DIADORIM com seus olhos sempre voltados para o belo.


Nas linhas finais do magnífico GRANDE SERTÃO:VEREDAS, o ex-jagunço Riobaldo assim se expressa: “E me cerro, aqui, mire e veja. Conto o que fui e vi, no levantar do dia. Auroras! Cerro. O senhor vê. Contei tudo.


Agora estou aqui, quase barranqueiro. Para a velhice vou, com ordem e trabalho…. Travessia."



(Foto de Araquém Alcântara)


AS CORES E AS LUZES DO SERTÃO E DAS VEREDAS.

Os Leitores de GRANDE SERTÃO:VEREDAS vivenciam as paisagens descritas por Guimarães Rosa como se ali estivessem presentes. Corroborando com o que dissemos, vejam a seguir algumas fotos do sertão e das veredas que tanto encantaram Guimarães Rosa e por onde passaram: Riobaldo,Diadorim, Joca Ramiro,Hermógenes, Ricardão,Zé Bebelo, Sô Candelário, TitãoPassos,Medeiro Vaz e tantas outras ricas e belas personagens.





























UMA PEQUENA DEMONSTRAÇÃO DO INVENTIVO MÁGICO DE GUIMARÃES ROSA.


No magnífico texto de GRANDE SERTÃO:VEREDAS, o Autor nos brinda com uma passagem exemplarmente rica em imagens físicas e psíquicas. Trata-se do inventivo LISO DO SUSSUARÃO. A descrição narrativa de Guimarães é tão extraordinariamente elaborada que nos leva a pesquisar a existência real desse local. Em seu texto realista-fantástico, o local-situação nos é apresentado extremamente agressivo e destruidor. Guimarães Rosa arreganha-nos as dificuldades interpostas em nossos caminhos, e às quais nos empenhamos para vencê-las e só conseguimos com muita conscientização delas e empenho sobre-humano para superá-las. Ao conseguirmos o intento, nos sentimos não só vencedores senão amealhadores de crescimentos vitais.
(A propósito, mostramos a excepcional criatividade poéti
ca do fotógrafo Marcos Villas-Boas ao nos apresentar o LISO DO SUSSUARÃO, imaginativo de Guimarães Rosa e vivenciado por cada um seus Leitores).


























CONTEXTO LITERÁRIO


Realismo mágico, regionalismo, liberdades e invenções linguísticas e neologismos são algumas das características fundamentais da literatura de Guimarães Rosa, mas não as suficientes para explicar seu sucesso. Guimarães Rosa prova o quão importante é ter a linguagem a serviço da temática, e vice-versa, uma potencializando a outra. Nesse sentido, o escritor mineiro inaugura uma metamorfose no regionalismo brasileiro que o traria de novo ao centro da ficção brasileira.
Guimarães Rosa também seria incluído no cânone internacional a partir do boom da literatura latino-americano pós-1950. O romance entrara em decadência nos Estados Unidos (onde à época era vitrine da própria arte literária, concorrendo apenas com o cinema), especialmente após a morte de Céline (1951), Thomas Mann (1955), Albert Camus (1960), Hemingway (1961), Faulkner (1962). E, a partir de Cem anos de solidão (1967), do colombiano Gabriel García Márquez, a ficção latino-americana torna-se a representação de uma vitalidade artística e de uma capacidade de invenção ficcional que pareciam, naquele momento, perdidas para sempre. São desse período os imortais Vargas Llosa (Peru), Carlos Fuentes (México), Julio Cortázar (Argentina), Juan Rulfo (México), Alejo Carpentier (Cuba) e mais recentemente Angel Ramá (Uruguai)


AS OBRAS DO GÊNIO.



  • 1936: Magma


  • 1946: Sagarana










  • 1947: Com o Vaqueiro Mariano (edição limitada e depois entra no livro póstumo Estas estórias)


  • 1956: Corpo de Baile (dividido em 2 volumes e que depois passa a ser dividido em 3 livros (Campo Geral, Noites do Sertão e Urubuquaqua no Pinhém)


  • 1956: Grande Sertão: Veredas



















  • 1962: Primeiras Estórias


  • 1967: Tutaméia – (Terceiras Estórias)












  • 1969: Estas Estórias(póstumo)













  • 1970: Ave, Palavra (póstumo)